A Rocinha

A Rocinha tem Muita História
e Memória para Contar

Ao propor contar as memórias e histórias da Rocinha, o Museu Sankofa busca uma construção crítica em relação às narrativas que reproduzem um imaginário estigmatizado sobre a favela. Seja pela oralidade das memórias de seus moradores, seja através dos documentos que inscrevem a história, o museu prioriza a construção de narrativas que partam do ponto de vista dos moradores da Rocinha (SEGALA; FIRMINO, 2010). Pensando dessa forma, por onde podemos começar a contar a história da Rocinha? Como podemos definir o que a Rocinha representa? As entrevistas feitas com moradores e colaboradores do museu nos mostram que a Rocinha “É o lugar de partida, mas também é um lugar de morada. É o lugar onde eu posso sonhar.” (Rose Firmino); “É o lugar onde eu nasci, me criei.” (Tânia Regina da Silva); “A Rocinha é minha casa, né! A Rocinha é onde eu moro” (Fernado Ermiro); “Uma favela que ao mesmo tempo que constrói a cidade, também se constrói” (Antônio Carlos Firmino), “a Rocinha é um mundo” (Leandro Urso Santos).

Imperfeita Rocinha, sigo nessa passarela atento.
Vejo verde, esperança.
Avisto morro, favela.
Te chamam de gigante, mas às vezes tu te tornas tão pequena.
Por isso eu desço, venho aqui embaixo, troco olhares, rouba a cena.
Mas não passa muito tempo lá vou eu de novo, subindo ao encontro dessa paixão.
Que me faz ficar cansado, leva o meu sono embora.
E ainda assim consegues me trazer tantas alegrias.
A troca, a cerveja gelada, o povo de luta, a verdadeira companhia.
Um abraço de vida a cada passo que dou.
Via Ápia não descansa. Eita lugar de andança

Gente, moto, trabalhador, panfletos, bala na mão da criança, cano do fuzil para fora.
E assim tudo se torna real.
Sorriso, corre, dor, alegria, fome, repressão, medo.
Eu não te abandono, perfeita Rocinha .
Até te ver assim com tuas raízes bem cuidadas, os teus frutos maduros caindo do pé.
Eu percebo que o teu grito vai pra longe, seguindo o caminho do vento.
Tua força é de árvore frondosa, aliada das histórias fortalecidas nas memórias que tenho de ti.
E assim se faz o presente.
Terra nossa por desigualdade, por direito, por necessidade de um pedaço de chão para se morar e ser feliz.
(Leandro Castro)

Na maioria desses relatos a Rocinha representa um lugar de habitação, memórias da infância,  lugar de origem e de se estar no mundo. De fato, a história da Rocinha é uma história de luta por condições dignas de moradia. Com uma área ocupada de 877.575 m², segundo dados de 1999 do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP – RJ), a Rocinha já foi considerada a maior favela da América Latina. De acordo com o censo do IBGE de 2010, a Rocinha possuía mais de 69 mil habitantes e 25 mil domicílios, mas de acordo com o Censo das Favelas realizado pelo governo do estado, a Rocinha já ultrapassava o número de 100 mil habitantes. No Censo de 2022, a Rocinha perdeu o título de maior favela do Brasil por número de domicílios, sendo ultrapassada pela favela de Sol Nascente, no Distrito Federal, com 32.081 domicílios.  Já a  Rocinha, a população contada pelo Censo 2022 foi de 67.199 pessoas e 30.955 domicílios. 

Segundo o Wikifavelas, o processo de ocupação do espaço remete à década de 20 quando a região ainda possuía características rurais, onde localizava-se a antiga fazenda de café Quebra-Cangalha. A fazenda foi vendida para as Companhias de Terreno Cristo Redentor e Castro Guidão e foi dividida em loteamentos que serviram sobretudo para a produção de hortaliças que abasteciam os bairros vizinhos. Quando indagados de onde vinham os produtos que eram vendidos na feira da Praça Santos Dumont, os comerciantes respondiam que as hortaliças vinham de uma “rocinha” no alto do morro da Gávea, o que deu origem ao nome dado à favela. 

A expansão da Rocinha ocorreu em paralelo ao desenvolvimento do bairro da Gávea, foi uma das primeiras localidades a possuir o bonde elétrico no final do século XIX, o que ocasionou o desenvolvimento industrial da região nas primeiras décadas do século XX (WEID, 1997). Essa região ficou conhecida como Gávea Vermelha, um bairro operário de  vilas de trabalhadores que mais tarde, na década de 40, transformou-se no Parque Proletário como resultado da política de habitação do governo Vargas para os trabalhadores pobres da Zona Sul e para as famílias removidas de outras regiões da Rocinha. O asfaltamento da Estrada da Gávea em 30 e a crescente industrialização aceleraram o processo de ocupação dos antigos loteamentos da Rocinha (MILLEN, 2018).

Rocinha, 1979.
Rocinha, 1979.
Mutirão
Mutirão da Rua 3, 1981.

Ao longo dos anos, a região passou  por diversos momentos de disputas sobre os territórios e o aprofundamento das desigualdades sociais. De um lado a gentrificação e a valorização dos bairros da Gávea e São Conrado, de outro a falta de planejamento urbano pelo descaso do governo e superpovoamento na favela da Rocinha. Nos anos 50, a Rocinha se configurou em certa medida nos moldes como a conhecemos atualmente, a partir da concepção de favela, quando foi considerada a favela mais populosa da cidade, segundo o Censo Demográfico de Favelas do antigo Distrito Federal (MEDEIROS; VALLADARES, 2003). Esse cenário trouxe a necessidade de organização dos moradores em torno de  melhorias para a comunidade. A partir da década de 60, deu-se início a um  intenso e contínuo trabalho comunitário em momentos que ficaram marcados pelas primeiras mobilizações em prol do saneamento básico com os mutirões de limpeza dos valões, em favor da construção da passarela sobre a autoestrada Lagoa-Barra e os movimentos contra as remoções na favela (SEGALA, 1991).

Na década de 70, a Rocinha avistou os primeiros avanços como resultado das reivindicações ao poder público para o desenvolvimento da infraestrutura local, com o estabelecimento de escolas, de postos de saúde, da passarela e  a canalização das valas. Em 93, através da Lei 1995, a Rocinha foi transformada em bairro, o que não significou a implementação de novas obras para melhorar a situação urbana da comunidade. Ao compreendermos a história da Rocinha a partir da política de ausências por parte do estado, compreendemos a sua consolidação como fruto das lutas dos seus habitantes (FIRMINO; SEGALA, 2010). 

EDUCAÇÃO CULTURA LÚDICA ROCINHA

Projeto realizado através do Ponto de Cultura
(Centro de Cultura e Educação Lúdica da Rocinha) / CIESPI/ PUC-Rio.

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