A geografia da Rocinha é similar a uma baía, onde tudo verte para o Campo de Esperança, na época totalmente ocupado. Houve um mutirão para retirada de lixo organizado pelo Padre Cristiano, que era o padre da igreja do Largo do Boiadeiro. Naquele caso, como todas as águas da Rocinha vertem para ali, e o valão era todo coberto de barracos, aquilo não funcionava e acabava havendo muita inundação (....) nesse processo de mutirão se conseguiu, junto à prefeitura, uma canalização do valão e, para canalizar, era preciso tirar 72 famílias. Foi assim que surgiu o projeto do Laboriaux, que era um lugar que havia sido favela, e foi removida, era um lugar vazio, com restos de barracos. E eu fui vistoriar com uma pessoa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. A gente vistoriou o lugar, e um arquiteto da minha equipe que fez o primeiro desenho de projeto para transferência das famílias foi pra lá (trecho de entrevista concedida por Celso Bredariol, em julho de 2015).
A prefeitura, então, assumiu o trabalho e realizou a obra de reassentamento das pessoas do valão para o Laboriaux e a canalização do valão no Campo de Esperança; a equipe da FEEMA fez um trabalho de reflorestamento com os moradores para contenção da encosta no local.
Após uma noite de muita chuva, me ligaram falando que tinha uma moradora que não conseguia sair de casa por causa da lama que impedia a abertura de sua porta. Eu tinha saído pra trabalhar, mas não conseguia chegar no trabalho, porque as ruas estavam alagadas e estava tudo parado, então, voltei pra Rocinha. Quando cheguei, me mostraram que tinha uma rua rachando lá em cima. E fui até lá, fotografei a rachadura e fiquei acompanhando. Liguei para a GeoRio, Defesa Civil, Região Administrativa e comecei a cadastrar as pessoas que teriam que sair de suas casas pelo risco que a gente tava vendo no local. Até 12h, a gente tinha mais ou menos 35 pessoas cadastradas. No final do dia, a GeoRio chegou para avaliar e a Defesa Civil interditou a área que logo depois veio abaixo. Como a gente tinha lista das pessoas, comecei a chamar pelo nome a e aí faltavam duas pessoas. Essas pessoas ficaram soterradas. A partir daí, o coronel do Batalhão de Copacabana perguntou quem estava ali pra ajudar no resgate (...) No primeiro dia a gente trabalhou, tentou tirar as pessoas (...) enquanto a gente não resgatou as duas pessoas, o trabalho não parou (...) (trecho de entrevista concedida por José Ricardo, em junho de 2015)
Após esse episódio, foi iniciado o Movimento Preserva Laboriaux visando ao debate e à promoção da qualidade de vida e desenvolvimento sustentável dessa parte da favela, que havia sido classificada como “área de risco” e ameaçada de remoção após fortes chuvas que atingiram a cidade em abril de 2010.